Passaram-se 14 dias que comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Esta data é para refletirmos a trajetória das mulheres que lutaram bravamente pela emancipação feminina. Em todas as áreas da sociedade as mulheres dedicaram suas vidas a lutas pela emancipação dos oprimidos. Muitas morreram nas trincheiras ou perderam seus filhos nas guerrilhas ou mesmo na guerra injusta do capitalismo desumano, que deixa homens e mulheres estressados e deprimidos na busca da sobrevivência. Aliás, é fácil entender que não há vida plena nesse corre-corre, mas somente sobrevivência, cuja palavra, na maioria das vezes, significa o contrário do que diz: na verdade “subvivemos”. O corre-corre a que nos referimos nos desumaniza nos empurrando para o péssimo comportamento de atropelarmo-nos uns aos outros ladeiras a baixo, na tentativa de pormos as mãos no que nos é imposto pelo marketing do consumo exacerbado. Uma dessas imposições desumanas é a busca neurótica pela eterna juventude.
Refiro-me aqui a três faces de Eva em Gioás: a política da mulher em Goiás começou com as indígenas das tribos goyases. Belas mulheres enfrentaram a violência da passagem dos bandeirantes, verdadeiros “anhangueras” (diabos velhos) que estupravam e matavam. Hoje, vergonhosamente, esse é o nome da maior avenida de Goiânia. Contudo, na realidade, os anhangueras estão mais para diabos velhos – significado real dos exploradores e assassinos bandeirantes - que estupraram e matararam mulheres e as culturas indígenas.
A outra face de Eva nasceu da construção de Goiás, quando homens saiam em tropas deixando as mulheres em casa cuidando dos filhos, defendendo-se dos viajantes que por ali passavam. Muitas escreveram músicas, poesias enquanto seus companheiros exerciam papéis de caçadores, faziam política escondida, pois naquele tempo o voto era negado às mulheres, que não se expressavam em público, cuidavam das feridas dos escravos e os ajudavam a defender-se do chicote dos capitães do mato, na realidade, eram vitimas dos invasores das terras brasileiras.
A terceira face de Eva se manifesta com o tempo. A mulher goiana se modernizou. Quando viajamos para fora do estado ou do país ouvimos o primeiro comentário referindo-se a beleza das mulheres goianas. Isso é verdade. Mas precisamos ser muito mais do que bonitas: precisamos mergulhar na transformação política. A ciência confirma que não há transformação de idéias que não passe pelo campo e pela prática políticas: ocupar nosso papel nas câmaras municipal, estadual e federal, defender o povo goiano, não só enquanto estado do sertanejo ou pé vermelho, como dizem por ai, mas como mulheres aguerridas, donas do seu tempo. A mulher está no poder, mas o poder tem que ser conquistado todos os dias. Para que isso aconteça, precisamos sair do nosso comodismo e levantar as bandeiras, dizermos não para os bandeirantes atuais, que continuam chicoteando os pobres que pegam os ônibus, às 5 da manhã, que deveríamos chamar não de ônibus mas de lata de sardinha. Políticos que representam a classe dominante fazem promessas “tucanadas” e, uma vez no poder, nos violentam barbaramente como os bandeirantes fizeram com as indígenas. Precisamos dizer não para os abusos participando de cursos e práticas de formação política, formar grupos filosóficos, discutir nossa própria realidade. Pensando e lutando assim, companheiras, é que avançaremos com justiça na construção da face do terceiro rosto de Eva. É evidente que essa construção faz parte da edificação da sociedade justa do futuro para todos, baseada no respeito entre homens, mulheres, crianças, jovens e velhos de todas a etnias como pessoas integralmente.
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