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domingo, 31 de julho de 2011

Para não dizer que não falei das flores


Lembrar o tempo de chumbo no Brasil é necessário, mas dói. 
Agora é outro tempo, é tempo de democracia, sem esquecer o tempo da história que passou e que de fato ainda é muito presente. Precisamos esclarecer: cadê nossos mortos?
Esse vídeo é um presente de alguém que encontrei no tempo. 
Obrigada tempo, no tempo do tempo.

Jucilene Pereira Barros

sábado, 30 de julho de 2011

O velho e bom “de volta às aulas”

Segunda-feira, dia 1° de agosto, estaremos de volta as aulas. Nessa última semana, que estou em férias e que não tive férias, me pus a pensar sobre o que os pensadores do passado e os contemporâneos, me diriam sobre a escola de hoje.
Para Bourdieu, a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural. E este, segundo o sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Os próprios estudantes mais pobres acabam encarando a trajetória dos bem-sucedidos como resultante de um esforço recompensado. Uma mostra dos mecanismos de perpetuação da desigualdade está no fato, facilmente verificável, de que a frustração com o fracasso escolar leva muitos alunos e suas famílias a investir menos esforços no aprendizado formal, desenhando um círculo que se auto-alimenta. Nos primeiros livros que escreveu, Bourdieu previa a possibilidade de superar essa situação se as escolas deixassem de supor a bagagem cultural que os alunos trazem de casa e partissem do zero, não nos esqueçamos que nossas crianças não são mais páginas em branco, já chegam à escola com algum conhecimento. Mas, com o passar do tempo, o pessimismo foi crescendo na obra do sociólogo: a competição escolar passou a ser vista como incontornável.
O capital social, por exemplo, corresponde à rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Já na educação se acumula, sobretudo capital cultural, na forma de conhecimentos apreendidos, livros, diplomas etc.
No, passado aprendizagem era sinônimo de transferência. Hoje a educação significa repetição e cada vez mais se distancia da inventividade. Eu me lembro de ter participado de um grupo de professores em Minas Gerais: os professores inventores. É a dimensão que esta faltando na escola de hoje. A escola tem de estar em sintonia com a vida. Essa vida que é tão preciosa, porque é frágil, é efêmera diante da eternidade. A escola tem uma responsabilidade muito grande para com a educação de crianças e jovens, porque se a trama não for bem feita logo na infância, o tecido do futuro será frouxo.
As nossas crianças estão em um lugar que o adulto não pode estar é isso que é o fator que cria o amadurecimento precoce da criança. Hoje o sistema de ensino nos impõe que a boa escola é aquela que assalta a criança mais cedo e o bom professor é aquele que aprova. A vida da criança é um processo de subtração, não temos o direito de subtrair. Na escola nós educadores temos o dever de espichar cada vez mais a infância da criança e a inocência do jovem, aumentando assim o sabor da vida. Pensando assim temos que ter muito cuidado com o uso da palavra, a palavra é algo muito serio. Na psicanálise há uma cura a partir da palavra, segundo Freud “a palavra e a pá que ara a terra para o plantio, deixando-a fértil”. Cuidemos bem das nossas palavras.
Temos que aprender que ensinar não é educar, as crianças aprendem não para ter sucesso na vida, mas sim para ser mais amada pelo professor. A educação é feita de trocas e de dúvidas, não de verdades e isso a faz mais emocionante. Na escola pública temos que ter mais cuidado diante das vidas que ali estão, pois o próprio lugar em que trabalhamos é humilde, não tem luz própria e precisa para se iluminar de uma estrela de alta grandeza.
O escritor mineiro e pedagogo, Bartolomeu Campos de Queiroz diria: “A terra não tem nem luz própria”. A vida é verbo, presente e futuro, a vida é cheia de rima, a vida é cheia de enigmas: “quem colocou a água dentro do coco”, “quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha”. A vida é uma grande fantasia, a criança é alimentada de fantasia, portanto é uma grande realidade. O professor é o agente dessa realidade. O papel do professor é alimentar essa criança, por isso há um risco educacional, temos de ter cuidado com a subtração na educação.
Que todos nós, profissionais da educação, pedagogos, psicólogos, coordenadores, professores, diretores, zeladores, monitores, tenhamos um bom semestre, pautados na essência da dignidade humana.
Ofereço a todos os meus colegas com quem trabalho e aos meus colegas com quem faço curso de especialização no Museu Antropológico de Goiânia, a meus mestres, aos profissionais que nos atendem no museu e na instituição em que trabalho, a minha colega com que faço trabalhos extra sala de aula juntas, aos orientadores que me ajudam com a língua portuguesa, muito obrigada a todos. Me desculpe por não citar nome, se citar o nome de um, terei que citar a todos, pois todos tem a mesma importância na minha vida e no meu crescimento intelectual e na minha formação humana e aos meus alunos, que todos os dias, fazem de mim uma pessoa melhor e a minha sorte de ter tido a possibilidade de conviver com pessoas maravilhosas em minha vida.
Eu amo Bartolomeu Campos de Queiroz, brasileiro e mineiro, amo nossos pensadores. Gosto muito também de Pierre Bordieu, do seu olhar crítico.
Jucilene Pereira Barros

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