Pesquisar este blog

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O olhar dos excluídos







Início das férias, último dia de aula. Exausta saímos a passear pela Praça Universitária. Acabávamos de sair de um debate que seguiu a apresentação de nossos trabalhos de encerramento do semestre, no curso de Historia da África. Logo encontramos os jovens Deuzely Rodrigues da Silva, estudante do curso de Pedagogia pela PUC-Goias e Iris Monteiro, estudante do Servico Social, também pela PUC-Goias, em uma discussão a respeito de movimentos sociais. Eles debatiam com todo arroubo da juventude sobre pensadores da historia e da contemporaneidade. Um diálogo que tirou o meu suspiro e remeteu–me a uma doce lembrança de meus tempos de estudante, e de cara pintada, quando ainda acreditava que poderia mudar o mundo.

Os jovens então convidaram a mim e a minha querida amiga e professora Marilena da Silva, militante do movimento negro, para participarmos de um fórum que estava acontecendo no Centro Cultural Cara Vídeo chamado Grito dos Excluídos. Até chegarmos ao local, os jovens debatiam sobre algo que me preocupa muito no momento: tantas bandeiras que estão sendo levantadas que, acho, são importantes apenas pelo fato de termos a liberdade de irmos as ruas e militarmos naquilo que acreditamos.

Creio eu que é necessário pensarmos em fortalecer os nossos movimentos sérios como as questões raciais e os movimentos feministas sérios. Fomentar leis de saúde publica para as mulheres, e uma educação libertadora para todos. Pensarmos naqueles que morreram nos movimentos em defesa da terra como Adelino Ramos, o Dinho, líder do Movimento Camponês Corumbiara, morto em Vista Alegre do Abunã (RO) em 1995 porque denunciava a ação dos madeireiros, não esquecer a morte precoce de Chico Mendes e tantos outros homens e mulheres que morreram lutando bravamente em defesa da reforma agrária, dos seringais, das florestas.

Ao chegarmos ao local do debate, deparei-me com um movimento ecumênico, onde tinham homens e mulheres de movimentos diversos tentando unificar todas as bandeiras. Também havia no local uma mistificação religiosa, padres, freiras, evangélicos, céticos, lideres de movimentos negros, associações de bairro, movimentos da juventude, LGBT, etc. Todos comungavam e afunilavam as idéias em um único debate trepidante e profundo. Questões serias, como o descaso do poder publico como o sistema de transporte urbano de Goiás, que fere qualquer dignidade humana, com ônibus lotados se parecem verdadeiras “latas de sardinha”, com atrasos e terminais desconfortáveis, gerando estresse na população, tornando as pessoas estressadas e violentas, depois de um dia exaustivo de trabalho. Em pauta também a violência policial, promovendo a mais incompreensível contradição, pois aqueles que deveriam proteger a população e muitas vezes são quem mais a aterroriza. Claro, estou falando das lamentáveis exceções de bandidos que estão nas corporações, e não dos bons e sérios policiais, que diariamente colocam suas vidas em risco para nos proteger e, mesmo sendo vitimas de um treinamento arcaico e embrutecedor, que mais parece um adestramento, não perdem sua humanidade e seus valores. Todos os presentes naquele debate concordam que o Estado precisa pensar uma policia de inteligência, de estratégias, democrática, respeitosa e, claro, com uma remuneração bem melhor. Se não pensarmos sobre todas essas questões, vamos passar nossas vidas girando nessa louca roda em que já estamos, e o sistema será o mesmo. Sem que tenhamos, de fato, direito a saúde de qualidade para todos, educação idem, reforma agrária e liberdade real. Afinal, enquanto isso os “governantes” nadam as braçadas, usurpando todos os recursos, fazendo a máquina pública trabalhar em seus benefícios pessoais, privatizando o patrimônio publico e acumulando mais e mais riquezas.

Enfim, amigos leitores, o Grito dos Excluídos é o grito daqueles que representam os movimentos sérios, os movimentos de mulheres, um grito por aqueles que só querem a terra para viver. Um grito pela igualdade racial, e pelo respeito àqueles que durante anos sofreram todo tipo de preconceito. Um grito em defesa das crianças e jovens que morrem nas ruas todos os dias, crianças que estão fora das escolas, usando crack, sendo vítima e agente da enorme violência urbana, ou sendo usadas em trabalho escravo, abusadas sexualmente por pessoas adoecidas. É também um grito por aqueles que não têm acesso à saúde e morrem por falta de atendimento nos PSF das periferias. Pelas mulheres que cumprem dupla jornada de trabalho, e ainda sofrem violência doméstica, violência no trabalho, praticada por chefes e colegas inescrupulosos, além e da exclusão velada ao pleitear uma vaga de trabalho, com salários ainda menores que dos homens. Esse e o Grito dos Excluídos. Se você é um excluído está convidado a todas essas reflexões e, sobretudo, está convidado a sair da zona de conforto e debatermos políticas sérias para todos. Não apenas debater, mas se juntar a todos nós, para juntos construirmos essa sociedade com a qual todos sonhamos.

Nesse meu olhar quero sinceramente manifestar minha admiração em primeiro lugar pelos dois jovens Deuzely Rodrigues da Silva e Iris Monteiro, aguerridos da transformação pela educação. Também pelos debatedores e representantes do Movimento Grito dos Excluídos, Arilene Martins, Maria das Graças F. da Silva Mendes, Maria Auxiliadora, Marta Francisca e Sergio Ferro.

Podemos optar por manter nossa percepção enganosa em relação ao mundo mostrado pela mídia. Mas se quisermos promover as mudanças necessárias, precisamos considerar, e fazer ecoar, os diversos gritos de todos os excluídos que a todo momento emitido mas que, nunca e mostrado pela Rede Globo de Televisão, e por nem um tipo de mídia enganosa nem por nenhum discurso de pessoas reacionárias.

E o amor que guardo em mim não é piegas, passa pelo viés da transformação, um olhar critico do social. Tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha.


  Esse video é um presente do meu querido amigo que admiro muito pelo seu conhecimento, dedicação, paixão pela lingua portuguesa e que me passa seus conhecimentos em aula como um simples aprendiz.  E que não citarei o nome a pedido do mesmo. Muito obrigado amigo professor e professor amigo.

Um comentário:

  1. Belo txto minha querida "Josi" assim como foi bela sua contribuição neste encontro...
    Grande abraço e saiba que também admiro muito a você, Deuzely, Marilena e todas as mulheres e homens que permanecem na luta por uma socieda justa e democrática.

    Att

    Íris Monteiro

    ResponderExcluir

Páginas